Acordo ainda será assinado, mas estatal mineira irá administrar um orçamento que pode chegar a R$ 1 bilhão para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul da Bahia.
voltarO setor audiovisual de Minas Gerais vive dias de ansiedade à espera da confirmação de um acordo que vai mudar completamente o cenário dessa cadeia produtiva tão importante para a cultura e a economia local. No início deste mês, em um evento realizado na cidade de Ouro Preto, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o governador Romeu Zema (Novo) assinaram um protocolo de intenção para que o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) passe a operar como agente financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) no Sudeste, no Centro-Oeste e no Sul da Bahia.
Ainda não há previsão de quando o plano será formalizado, mas as diretrizes para a assinatura do acordo, segundo o presidente do BDMG, Sérgio Gusmão Sucholdoski, estão sendo debatidas em reuniões técnicas com a equipe da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Ele diz que conversas estão encaminhadas para definir a linha de atuação do banco, que já está desenhando as ferramentas adequadas para ampliar o acesso dos mineiros aos recursos, impulsionar a produção cultural e a economia criativa no Estado.
Sucholdoski ressalta que o BDMG já atua na promoção e no fomento ao audiovisual mineiro, mas o que está por vir é algo sem precedentes na história do Estado: “Nossa entrada vai nos colocar como agentes centrais; seríamos o banco no Sudeste, região que concentra a maior produção audiovisual do país”.
Atualmente, a gestão financeira do FSA é feita exclusivamente pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) juntamente com a Ancine via Ministério do Turismo. O orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual em 2021 deve girar em torno de R$ 1 bilhão. Estima-se que o BDMG gerencie 70% desse valor, que deve começar a ser executado ainda no primeiro semestre do ano que vem e será repassado a projetos audiovisuais por meio de editais. Ainda não se sabe exatamente o que fica para Minas Gerais, mas o Sudeste vai concentrar a maioria dos recursos.
O secretário de Cultura e Turismo de Minas, Leônidas Oliveira, classifica a medida como histórica e estratégica. “Isso significa uma descentralização dos recursos, nos coloca num contexto nacional como uma potência junto ao nosso banco e à Ancine para contribuirmos com o desenvolvimento do audiovisual nacional. Vamos posicionar Minas finalmente podendo competir em pé de igualdade com Rio e São Paulo”, destaca.
Oliveira afirma que a entrada do BDMG como protagonista na gestão de recursos do audiovisual em nível nacional é uma ação que faz parte de uma estruturação de políticas públicas do governo do Estado.
Nessa perspectiva, a Empresa Mineira de Comunicação (EMC), por meio da Rede Minas, passa a ser agência também e catalisadora de políticas públicas e de fomento e divulgação do setor, como explica o presidente da EMC, Sérgio Rodrigo Reis: “O importante é que, com a EMC entrando nesse processo, vamos poder proporcionar ao mercado, ao setor e ao público a possibilidade de entrega dos produtos. Séries, desenhos animados, dramaturgia, longas e curtas-metragens, lives e todos os formatos que porventura vierem a acontecer. Estamos falando de toda uma cadeia produtiva, e nosso desafio é ocupar todas as telas possíveis”.
Acordo repercute positivamente entre o setor
Embora o acordo que possibilita ao BDMG gerenciar parte dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual para o Sudeste, o Centro-Sul e o Sul da Bahia ainda não esteja sacramentado, o cineasta e coordenador da ONG Contato, Helder Quiroga, diz que o banco, ao fazer parte da engrenagem da condução financeira dos recursos do audiovisual brasileiro, vai fortalecer e agilizar a estrutura do setor em Minas, permitindo que ela tenha mais agilidade, e terá de se preparar para isso. “Minas vai entrar no jogo nacional e se desenvolver com mais plenitude. A cadeia produtiva se fortalece quando ganha esse tipo de aliado”, ele diz.
O cineasta mineiro Helvécio Ratton afirma que essa pauta já vinha sendo discutida pelo setor havia algum tempo e que ter um órgão operacionalizando os recursos do fundo a partir de Minas Gerais possibilita uma oportunidade de descentralização do eixo Rio-São Paulo. Para ele, é fundamental que se busque maximizar todas as potências que o mercado audiovisual apresenta.
“É uma conquista histórica e muito importante para o Estado, simbolicamente também tem um peso grande. Estamos falando de uma indústria que emprega muita gente, é a que mais cresce no mundo. O Brasil não pode perder essa oportunidade”, acredita.
No entanto, o diretor entende que a boa notícia chega em meio a um momento de insegurança para os trabalhadores do audiovisual. “Precisamos considerar que o fundo está praticamente paralisado. Esse acordo é um alento e uma notícia muito favorável, mas é preciso que o FSA volte a operar”, pondera Helvécio Ratton.
Fonte: Jornal O Tempo, 29/09/2020